domingo, 7 de julho de 2013

O que não fiz


Eu deveria ter dito tudo o que estava aqui dentro, deveria ter sido mais corajosa, olhado nos teus olhos e mostrado o quanto os meus brilhavam na sua presença. Deveria ter segurado nas tuas mãos, deveria ter passado por elas toda a eletricidade que tomava o meu corpo quando estava ao seu lado, deveria ter te abraçado pra te lembrar que era do meu abraço que você costumava gostar, e que era nos meus braços que você sempre queria estar. Deveria ter te beijado pra provar que a minha boca não preferia nenhuma outra boca, e que a sua, mesmo relutante, queria beijar a minha e se entregar sem volta. Deveria ter chorado, deixado as lágrimas escorrerem pelo meu rosto como um último grito de desespero. Eu deveria ter dito que era eu a pessoa feita pra te fazer feliz, deveria ter sido clichê e alegado que sem você não poderia viver e tudo o que eu precisava era o seu amor, deveria ter dito, afinal, que te amava. 

A verdade é que não fiz nada que era pra ter sido feito, a verdade é que fui covarde, passiva e desleal não só com você, mas principalmente comigo. A verdade é que te deixei ir de forma silenciosa e dolorosa. Verdade é que quando percebi você já não estava mais lá e apenas me fez o favor de avisar devidamente a sua partida. 
De toda a história, faço minha toda culpa, toda mágoa, toda dor, toda saudade, toda lembrança. Guardo em mim todo o amor que era pra você, e sigo te amando de longe, amando como nunca amei quando estive perto.

At night

É durante a noite que os sonhos são invadidos pelos medos, o pensamento se confunde, a paz vai se esvaindo e o sono nos abandona. É durante a noite que o caminho fica escuro, a rua fica estreita, os sons externos desaparecem e dentro de nós sobram canções implorando para serem despejadas sobre uma nota. É durante a noite que o coração se agita e bate como quer, ignorando qualquer ordem de sossego. É durante a noite que a verdade mais atormenta e corrói o ser, se enfia dentro dos segredos mais bem guardados e se embola, aperta, machuca. É durante a noite que a gente chora os amores e tristezas do passado (e presente), aqueles que há muito tempo deveriam ter sido esquecidos e enterrados, aqueles que mesmo trancados naquela gaveta esquecida, conseguem sair enquanto é noite pra falar de saudade. É durante a noite que a gente se despe de toda a mágoa diária, se limpa de qualquer orgulho e, só por essas horas, encontra perdão e paz.